A disputa interna no PL goiano ganhou contornos de uma verdadeira batalha ideológica, estratégica e até pessoal entre dois nomes de peso, o deputado federal Gustavo Gayer e o vereador Major Vitor Hugo. O embate entre os dois não é apenas sobre posições políticas, mas sobre quem comandará o futuro do bolsonarismo em Goiás, e qual será o caminho do PL em 2026.
A nova estratégia de Vitor Hugo
Major Vitor Hugo, ex-deputado federal e aliado histórico de Jair Bolsonaro, tem apostado numa guinada estratégica do PL goiano rumo ao centro político. Sua principal movimentação é a aproximação com o MDB, em especial com o vice-governador Daniel Vilela, e a base do governador Ronaldo Caiado.
Essa mudança já rendeu resultados concretos, foi Vitor Hugo quem articulou a filiação de Márcio Corrêa, ex-MDB, ao PL, e sua vitória como prefeito de Anápolis foi a única entre as grandes apostas do partido nas eleições de 2024. O sucesso consolidou a imagem de Vitor Hugo como um articulador político eficaz, mesmo que seu estilo pragmático incomode os setores mais ideológicos do partido.
Nos bastidores, Vitor Hugo tem sido acusado por Gustavo Gayer de adotar uma postura agressivamente estratégica. Gayer afirma que o vereador tem percorrido o Estado de Goiás espalhando rumores de que ele, Gustavo Gayer, será cassado ou até preso, com o objetivo de desqualificá-lo e enfraquecer sua possível candidatura ao Senado. Segundo Gayer, essa narrativa serviria para tentar convencer a base bolsonarista de que o único nome viável ao Senado pelo PL seria o próprio Major Vitor Hugo.
O projeto conservador de Gayer
Do outro lado, Gustavo Gayer se mantém como um dos principais nomes da direita ideológica no Brasil. Deputado federal combativo e com forte presença nas redes sociais, Gayer representa a ala mais fiel ao bolsonarismo raiz. Ele defende a manutenção da linha dura do partido e segue alinhado ao atual presidente estadual do PL em Goiás, Wilder Morais.
Em 2024, Gayer apoiou a candidatura de Fred Rodrigues à prefeitura de Goiânia, que, embora derrotada, teve expressiva votação, e também a de Professor Alcides em Aparecida, esta considerada um desastre eleitoral. Ainda assim, sua força popular e o espaço conquistado dentro da direita goiana fazem com que ele mantenha um projeto sólido, uma candidatura ao Senado em 2026, com Fred Rodrigues garantido como candidato a deputado federal.
A aposta total de Vitor Hugo
Major Vitor Hugo tem concentrado todas as suas fichas em ser candidato ao Senado pela base do governador Ronaldo Caiado. O plano é disputar uma das duas vagas ao Senado ao lado da primeira-dama Gracinha Caiado, em uma composição articulada diretamente com o Palácio das Esmeraldas. Ele acredita que essa configuração é sua única chance real de ser eleito senador.
Caso o cenário mude e o PL, sob a liderança de Wilder Morais, lance uma candidatura própria ao governo, em oposição à base de Caiado, Vitor Hugo sabe que sua viabilidade eleitoral para o Senado praticamente desaparece. Por isso, ele insiste em uma reaproximação com o governador, mesmo que isso signifique atritos com parte do bolsonarismo mais radical.
O dilema de Bolsonaro
No centro desse conflito está Jair Bolsonaro. De um lado, ele tem em Vitor Hugo um articulador político eficiente, que entrega resultados e alianças. De outro, vê em Gayer seu mais fiel representante ideológico, alguém que encarna os valores mais profundos do bolsonarismo. Bolsonaro, assim, se vê entre a cruz e a espada, prestigiar a estratégia ou manter a essência.
Gayer, Rodrigues e a força eleitoral
Apesar das movimentações de Vitor Hugo, Gayer e Fred Rodrigues continuam sendo os nomes com maior apelo popular no estado. Vitor Hugo, por sua vez, precisou recorrer a grandes volumes do fundo partidário para se eleger vereador em Goiânia, o que o coloca em desvantagem natural diante da base orgânica e engajada construída por Gayer ao longo dos anos.
Conclusão
A disputa entre Gustavo Gayer e Major Vitor Hugo reflete a encruzilhada em que o PL se encontra, seguir um caminho mais pragmático e conciliador para vencer eleições, mesmo que isso implique alianças com adversários históricos, ou manter a coerência ideológica do bolsonarismo puro, com o risco de isolamento político.
O futuro do partido, e talvez do próprio Bolsonaro em Goiás, passa necessariamente pela escolha entre essas duas visões. E, enquanto o jogo não é decidido, a tensão interna continua crescendo, com ataques, desconfianças e articulações nos bastidores que moldarão os palanques de 2026.